sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Soneto.


Ouvi, senhora, o cântico sentido
Do coração que geme e s´estertora
N´ânsia letal que mata e que o devora
E que tornou-o assim, triste e descrido.
Ouvi, senhora, amei; de amor ferido,
As minhas crenças que alentei outrora
Rolam dispersas, pálidas agora,
Desfeitas todas num guaiar dorido.
E como a luz do sol vai-se apagando!
E eu triste, triste pela vida afora,
Eterno pegureiro caminhando,
Revolvo as cinzas de passadas eras,
Sombrio e mudo e glacial, senhora,
Como um coveiro a sepultar quimeras!

=Augusto dos Anjos=

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