domingo, 9 de março de 2014

=Rubem Alves=


A alma é uma coleção de belos quadros adornecidos,
os seus rostos envolvidos pela sombra. Sua beleza é triste
e nostálgica porque, sendo moradores da alma, sonhos,
eles não existem do lado de fora. Vez por outra, entretanto,
defrontamo-nos com um rosto (ou será apenas uma voz, ou uma
maneira de olhar, ou um jeito da mão...) que, sem razões, faz a
bela cena acordar. E somos possuídos pela certeza de que este rosto
que os olhos contemplam é o mesmo que, no quadro, está escondido
pela sombra. O corpo estremece. Está apaixonado.
Acontece, entretanto, que não existe coisa alguma que seja do tamanho
do nosso amor. A nossa fome de beleza é grande demais.(...)
Cedo ou tarde descobrirá que o rosto não é aquele. E a bela cena
retornará à sua condição de sonho impossível da alma.
E só restará a ela alimentar-se da nostalgia que rosto
algum poderá satisfazer...

=Rubem Alves=

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