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=PARA VIVER COM POESIA=

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as
únicas que o vento não consegue levar:
um estribilho antigo, o carinho no momento preciso,
o folhear de um livro,
o cheiro que um dia teve o próprio vento...

=(Mário Quintana - Para Viver Com Poesia)=





...







sábado, 1 de março de 2014

TE DAR=JPalmaJr =


Dar-te-ei, das flores, a mais bela.
Aquela de perfume doce, de pétalas macias,
aquela que já te entreguei antes, em poesia...
dar-te-ei, das estrelas, a mais luzidia,
aquela que além da noite, te acompanhará
todos os dias...dar-te-ei meus sonhos,
de todo encanto que sou capaz de imaginar,
te darei também meus olhos,
para verdes como é doce meu jeito
de te olhar...dar-te-ei, ao fim, meu fôlego,
para mais viverdes, para assim
saberdes como é viver
pra te amar...

JPalmaJr
AS 50 MAIS LINDAS CANÇÕES DA JOVEM GUARDA.

A Rua dos Cataventos=Mario Quintana=


Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

( Mario Quintana )

Clareiras – Mario Quintana


Se um autor faz você voltar atrás na leitura, seja de um período
ou de uma simples frase, não o julgue profundo demais,
não fique complexado: o inferior é ele.

A atual crise de expressão, que tanto vem alarmando a velha-guarda
que morre mas não se entrega, não deve ser propriamente de expressão,
mas de pensamento. Como é que pode escrever certo quem não sabe ao
certo o que procura dizer?

Em meio à intrincada selva selvaggia de nossa literatura encontram-se às vezes, no entanto, repousantes clareiras. E clareira pertence à mesma família etimológica de clareza… Que o leitor me desculpe umas considerações tão óbvias. É que eu desejava agradecer, o quanto antes, o alerta repouso que me proporcionaram três livros que li na última semana: Rio 1900 de Brito Broca, Fronteira, de Moysés Vellinho e Alguns Estudos, de Carlos Dante de Moraes.
Porque, ao ler alguém que consegue expressar-se com toda a limpidez, nem sentimos que estamos lendo um livro: é como se o estivéssemos pensando.

E, como também estive a folhear o velho Pascall, na edição Globo, encontrei providencialmente em meu apoio estas palavras, à pág. 23 dos Pensamentos:
“Quando deparamos com o estilo natural, ficamos pasmados e encantados, como se esperássemos ver um autor e encontrássemos um homem”.
( Mario Quintana )

Quando Mario Quintana se imortalizou:



( Mario Quintana )

CANÇÃO PARA UMA VALSA LENTA


Minha vida não foi um romance…
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amas, não digas, que morro
De surpresa… de encanto… de medo…

Minha vida não foi um romance
Minha vida passou por passar
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.

Minha vida não foi um romance…
Pobre vida… passou sem enredo…
Glória a ti que me enches a vida
De surpresa, de encanto, de medo!

Minha vida não foi um romance…
Ai de mim… Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso… de um gesto… um olhar…

(Mario Quintana)
(In, "Canções", Mario Quintana, Ed. Globo e "Melhores Poemas de Mario Quintana, Global Editora")
( Mario Quintana )

O Batalhão das Letras=( Mario Quintana )=


Aqui vão todas as letras,
Desde o A até o Z,
Pra você fazer com elas
O que esperam de você…

Aí vem o Batalhão das Letras
E, na frente, a comandá-lo,
O A, de pernas abertas,
Montado no seu cavalo.

Com um B se escreve BALÃO,
Com um B se escreve BEBÊ,
Com um B os menininhos
Jogam BOLA e BILBOQUÊ.

Com C se escreve CACHORRO,
Confidente das CRIANÇAS
E que sabe seus amores,
Suas queixas e esperanças…

Com um D se escreve DEDO,
Que poderá ser mau ou sábio,
Desde o dedo acusador
Ao D do dedo no lábio…

O E da nossa ESPERANÇA
Que é também o nosso ESCUDO
É o mesmo E das ESCOLAS
Onde se aprende de tudo.

Com F se escreve FUGA,
FRADES, FLORES e FORMIGAS
E as crianças malcriadas
Com F é que fazem FIGAS.

O G é letra importante,
Como assim logo se vê:
Com um G se escreve GLOBO
E o globo GIRA com G.

Com H se escreve HOJE
Mas “ontem” não tem H…
Pois o que importa na vida
É o dia que virá!

O I é a letra do ÍNDIO,
Que alguns julgam ILETRADO…
Mas o índio é mais sabido
Que muito doutor formado!

Com J se escreve JULIETA,
Com J se escreve JOSÉ:
Um joga na borboleta,
O outro no jacaré.

O K parece uma letra
Que sozinha vai andando,
Lembra estradas, andarilhos
E passarinhos em bando…

O L lembra o doce LAR,
Lembra um casal à LAREIRA!
O L lembra LAZER
Da doce vida solteira…

Com M se escreve MÃO.
E agora vê que engraçado:
Na palma da tua mão
Tens um M desenhado!

N é a letra dos teimosos,
Da gente sem coração:
Com N se escreve – NUNCA!
Com N se escreve – NÃO!

Outras letras dizem tudo.
Mas o O nos desconcerta.
Parece meio abobalhado:
Sempre está de boca aberta…

Quem diz que ama a POESIA
E não a sabe fazer
É apenas um POETA inédito
Que se esqueceu de escrever…

Esse Q das QUEIJADINHAS,
Dos bons QUITUTES de QUIABO
Era um O tão mentiroso
Que um dia criou rabo!

Os RATOS morrem de RISO
Ao roer o queijo prato.
Mas para que tanto riso?
Quem ri por último é o gato.

Acheguem-se com cuidado,
De olho aceso, minha gente:
O S tem forma de cobra,
Com ele se escreve SERPENTE.

É o T das TRANÇAS compridas,
Boas da gente puxar;
Jeito bom de namorar
As menininhas queridas…

O U é a letra do luto!
O U do URUBU pousado
Nas negras noites sem lua
Num palanque do banhado…

Este V é o V de VIAGEM
E do VENTO vagabundo
Que sem pagar a passagem
Corre todo o vasto mundo.

Era uma vez um M poeta
Que um dia, em busca de uma rima,
Caiu de pernas pra cima
E virou um belo dábliu!
Coisa assim nunca se viu,
Mas é a história verdadeira
De como o dábliu surgiu…

Com um X se escreve XÍCARA,
Com X se escreve XIXI.
Não faças xixi na xícara…
O que irão dizer de ti?!

Ypsilon – letra dos diabos,
Que engasga o mais sabichão!
Por isso o povo e as crianças
A chamam de “pissilão”…

O Z é a letra de ZEBRA,
E letras das mais infames.
Com um Z os menininhos
Levam ZERO nos exames.

E todas as vinte e seis letras
Que aprendeste num segundo
São vinte e seis estrelinhas
Brilhando no céu do mundo!

( Mario Quintana )
(Poema publicado originalmente no livro Poemas para Infância, retirado de Poesia Completa – Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 919 por mim mesmo em 14/10/2012)

( Mario Quintana )

Eu escrevi um poema triste=( Mario Quintana )=



Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza…
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel…
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves…
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

( Mario Quintana )

Das Utopias=( Mario Quintana )=


(foto de Dulce Helfer)

Se as coisas são inatingíveis… ora!
Não é motivo para não querê-las…
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

( Mario Quintana )
(Quintana de Bolso – Coleção L&PM Pocket)

Poesia =( Mario Quintana )=


(foto de Dulce Helfer)

Impossível qualquer explicação: ou a gente aceita à primeira vista,
ou não aceitará nunca: a poesia é o mistério evidente.
Ela é óbvia, mas não é chata como um axioma. E, embora evidente,
traz sempre um imprevisível, uma surpresa, um descobrimento.

( Mario Quintana )
(Poema do livro “Porta Giratória”, retirado por mim mesmo,
do livro Poesia Completa – Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 812)

Do Amoroso Esquecimento – Mario Quintana



Eu agora, – que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

( Mario Quintana )
(poema do livro Espelho Mágico. 2a. edição. São Paulo: Globo, 2005. p. 49)

Bocage – Poema Selecionado



La quando em mim perder a humanidade Mais um daquelles, que não fazem falta, Verbi-gratia — o theologo, o peralta, Algum duque, ou marquez, ou conde, ou frade: Não quero funeral communidade, Que engrole “sub-venites” em voz alta; Pingados gattarrões, gente de malta, Eu tambem vos dispenso a caridade: Mas quando ferrugenta enxada edosa Sepulchro me cavar em ermo outeiro, Lavre-me este epitaphio mão piedosa: “Aqui dorme Bocage, o putanheiro; Passou vida folgada, e milagrosa; Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro”. =Bocage=

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Soneto A Frederico Nietzsche.=( Augusto dos Anjos )=


Para que nesta vida o espírito esfalfaste
Em vãs meditações, homem meditabundo?
- Escalpelaste todo o cadáver do mundo
E, por fim, nada achaste… e, por fim, nada achaste!…

A loucura destruiu tudo o que arquitetaste
E a Alemanha tremeu ao teu gemido fundo!…
De que te serviu, pois, estudares profundo
O homem e a lesma e a rocha e a pedra e o carvalho e a haste?

Pois, para penetrar o mistério das lousas,
Foi-te mister sondar a substância das cousas
- Construíste de ilusões um mundo diferente,

Desconheceste Deus no vidro do astrolábio
E quando a Ciência vã te proclamava sábio,
A tua construção quebrou-se de repente!

=( Augusto dos Anjos )=

- Clarice Lispector -


“Não suporto meios termos.
Por isso, não me doo pela metade.
Não sou sua meio amiga nem seu quase amor.
Ou sou tudo ou sou nada”

- Clarice Lispector -

Soneto=( Augusto dos Anjos )=


Aurora morta, foge! Eu busco a virgem loura
Que fugiu-me do peito ao teu clarão de morte
E Ela era a minha estrela, o meu único Norte,
O grande Sol de afeto – o Sol que as almas doura!

Fugiu… e em si a Luz consoladora
Do amor – esse clarão eterno d’alma forte -
Astro da minha Paz, Sírius da minha Sorte
E da Noute da vida a Vênus Redentora.

Agora, oh! Minha Mágoa, agita as tuas asas,
Vem! Rasga deste peito as nebulosas gazas
E, num Pálio auroral de Luz deslumbradora,

Ascende à Claridade. Adeus oh! Dia escuro,
Dia do meu Passado! Irrompe, meu Futuro;
Aurora morta, foge – eu busco a virgem loura!

( Augusto dos Anjos )

O Rio=( Vinícius de Moraes )=


Uma gota de chuva
A mais, e o ventre grávido
Estremeceu, da terra.
Através de antigos
Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore
Um fio cristalino
Distante milênios
Partiu fragilmente
Sequioso de espaço
Em busca de luz.

Um rio nasceu.
=( Vinícius de Moraes )=

A Hora Íntima ==( Vinícius de Moraes )=


Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: – Nunca fez mal…
Quem, bêbedo, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas

Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: – Rei morto, rei posto…
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: – Foi um doido amigo…
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançará um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: – Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: – Não há de ser nada…
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?

Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?


=( Vinícius de Moraes )=

A Impossível Partida=( Vinícius de Moraes )=


Como poder-te penetrar, ó noite erma, se os meus olhos cegaram nas luzes da cidade
E se o sangue que corre no meu corpo ficou branco ao contato da carne indesejada?…
Como poder viver misteriosamente os teus recônditos sentidos
Se os meus sentidos foram murchando como vão murchando as rosas colhidas
E se a minha inquietação iria temer a tua eloqüência silenciosa?…
Eu sonhei!… Sonhei cidades desaparecidas nos desertos pálidos
Sonhei civilizações mortas na contemplação imutável
Os rios mortos… as sombras mortas… as vozes mortas…
…o homem parado, envolto em branco sobre a areia branca e a quietude na face…
Como poder rasgar, noite, o véu constelado do teu mistério
Se a minha tez é branca e se no meu coração não mais existem os nervos calmos
Que sustentavam os braços dos Incas horas inteiras no êxtase da tua visão?…
Eu sonhei!… Sonhei mundos passando como pássaros
Luzes voando ao vento como folhas
Nuvens como vagas afogando luas adolescentes…
Sons… o último suspiro dos condenados vagando em busca de vida…
O frêmito lúgubre dos corpos penados girando no espaço…
Imagens… a cor verde dos perfumes se desmanchando na essência das coisas…
As virgens das auroras dançando suspensas nas gazes da bruma
Soprando de manso na boca vermelha dos astros…
Como poder abrir no teu seio, oh noite erma, o pórtico sagrado do Grande Templo
Se eu estou preso ao passado como a criança ao colo materno
E se é preciso adormecer na lembrança boa antes que as mãos desconhecidas me arrebatem?…

=( Vinícius de Moraes )=

Nuvens =Álvaro de Campos=- Fernando Pessoa.=


No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
Obrigações morais e civis?
Complexidade de deveres, de conseqüências?
Não, nada...
O dia triste, a pouca vontade para tudo...
Nada...
Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive).
Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para não voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
Não sentem o que há de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrível em iodo o novo...

Não sentem: por isso são deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
Vão a todos os teatros e conhecem gente...
Não sentem: para que haveriam de sentir?

Gado vestido dos currais dos deuses,
Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício
Sob o sol, álacre, vivo, contente de sentir-se...
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer...

No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
No dia triste todos os dias...
No dia tão triste...

- Fernando Pessoa.

No céu da noite que começa =Fernando Pessoa.=


NO CÉU da noite que começa
Nuvens de um vago negro brando
Numa ramagem pouco espessa
Vão no ocidente tresmalhando.
Aos sonhos que não sei me entrego
Sem nada procurar sentir
E estou em mim como em sossego,
Pra sono falta-me dormir.
Deixei atrás nas horas ralas
Caídas uma outra ilusão
Não volto atrás a procurá-las,
Já estão formigas onde estão.

- Fernando Pessoa.

- Fernando Pessoa.


MEU CORAÇÃO esteve sempre
Sozinho. Morri já...
Para que é preciso um nome ?
Fui eu a minha sepultura.

- Fernando Pessoa.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

- Fernando Pessoa.


Tenho Pensamentos Que,
se pudesse REVELA-los e Faze-los
viver, acrescentariam
nova Luminosidade às estrelas
, nova beleza ao Mundo E maior
Amor ao Coração dos Homens.

- Fernando Pessoa.

= Pablo Neruda =


Se sou amado, quanto
mais amado
mais correspondo ao Amor.
Se sou esquecido,
devo esquecer também,
pois Amor e Feito espelho:
tem Que ter reflexo .

= Pablo Neruda =

domingo, 23 de fevereiro de 2014

=( Paulo Leminski )=


[...] duas vezes já cometo duas três quatro cinco seis
até esse erro aprender que só o erro tem vez [...]

=( Paulo Leminski )=

=( Paulo Leminski )=


Marginal é quem escreve à margem,
deixando branca a página
para que a paisagem passe
e deixe tudo claro à sua passagem.

Marginal, escrever na entrelinha,
sem nunca saber direito
quem veio primeiro,
o ovo ou a galinha.

=( Paulo Leminski )=

=( Paulo Leminski )=


Tarde de vento.
Até as árvores
querem vir para dentro.

=( Paulo Leminski )=

=( Paulo Leminski )=


Abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri:
Antigamente eu era eterno.

=( Paulo Leminski )=

Incenso fosse música=( Paulo Leminski )=


isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além...

=( Paulo Leminski )=

Livre=( Cruz e Sousa )=


Livre! Ser livre da matéria escrava,
arrancar os grilhões que nos flagelam
e livre penetrar nos Dons que selam
a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.

Livre da humana, da terrestre bava
dos corações daninhos que regelam,
quando os nossos sentidos se rebelam
contra a Infâmia bifronte que deprava.

Livre! bem livre para andar mais puro,
mais junto à Natureza e mais seguro
do seu Amor, de todas as justiças.

Livre! para sentir a Natureza,
para gozar, na universal Grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças.

=( Cruz e Sousa )=

Alma solitária==( Cruz e Sousa )=


Ó Alma doce e triste e palpitante!
que cítaras soluçam solitárias
pelas Regiões longínquas, visionárias
do teu Sonho secreto e fascinante!

Quantas zonas de luz purificante,
quantos silêncios, quantas sombras várias
de esferas imortais, imaginárias,
falam contigo, ó Alma cativante!

que chama acende os teus faróis noturnos
e veste os teus mistérios taciturnos
dos esplendores do arco de aliança?

Por que és assim, melancolicamente,
como um arcanjo infante, adolescente,
esquecido nos vales da Esperança?!

=( Cruz e Sousa )=

Escárnio Perfumado=( Cruz e Sousa )=


Quando no enleio
De receber umas notícias tuas,
Vou-me ao correio,
Que é lá no fim da mais cruel das ruas,

Vendo tão fartas,
D’uma fartura que ninguém colige,
As mãos dos outros, de jornais e cartas
E as minhas, nuas – isso dói, me aflige…

E em tom de mofa,
Julgo que tudo me escarnece, apoda,
Ri, me apostrofa,

Pois fico só e cabisbaixo, inerme,
A noite andar-me na cabeça, em roda,
Mais humilhado que um mendigo, um verme…

=( Cruz e Sousa )=

A Morte...=( Cruz e Sousa )=


Oh! que doce tristeza e que ternura
No olhar ansioso, aflito dos que morrem…
De que âncoras profundas se socorrem
Os que penetram nessa noite escura!

Da vida aos frios véus da sepultura
Vagos momentos trêmulos decorrem…
E dos olhos as lágrimas escorrem
Como faróis da humana Desventura.

Descem então aos golfos congelados
Os que na terra vagam suspirando,
Com os velhos corações tantalizados.

Tudo negro e sinistro vai rolando
Báratro a baixo, aos ecos soluçados
Do vendaval da Morte ondeando, uivando…

=( Cruz e Sousa )=

Velho=( Cruz e Sousa )


Estás morto, estás velho, estás cansado!
Como um suco de lágrimas pungidas
Ei-las, as rugas, as indefinidas
Noites do ser vencido e fatigado.

Envolve-te o crepúsculo gelado
Que vai soturno amortalhando as vidas
Ante o repouso em músicas gemidas
No fundo coração dilacerado.

A cabeça pendida de fadiga,
Sentes a morte taciturna e amiga,
Que os teus nervosos círculos governa.

Estás velho estás morto! Ó dor, delírio,
Alma despedaçada de martírio
Ó desespero da desgraça eterna.

=( Cruz e Sousa )=

“O poeta é um ente que lambe palavras.”- ( Manoel de Barros )-


Conheço de palma os dementes de rio. Fui amigo do Bugre Felisdônio, de Ignácio Rayzama e de Rogaciano. Todos catavam pregos na beira do rio para enfiar no horizonte. Um dia encontrei Felisdônio comendo papel nas ruas de Corumbá. Me disse que as coisas que não existem são mais bonitas.
=Manoel de Barros=

Mundo Pequeno - (do livro “O Livro das Ignorãças“)- Manoel de Barros


O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas
maravilhosas.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas
com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os
besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe,
Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter
os ocasos.

=Manoel de Barros=

“Poesia é voar fora da asa.” ( Manoel de Barros )


Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

( Livro Memórias inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros, São Paulo: Planeta do Brasil, 2010. p. 47) *
=Manoel de Barros=

=Manoel de Barros=


Eu tenho um ermo enorme dentro do olho. Por motivo do ermo não fui um menino peralta. Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo de peraltagem. Quando eu era criança eu deveria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia vizinho. Em vez de peraltagem eu fazia solidão. Brincava de fingir que pedra era lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um serzinho mal resolvido e igual a um filhote de gafanhoto.
Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação.
Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.

( Livro Memórias inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros, São Paulo: Planeta do Brasil, 2010. p. 187)
=Manoel de Barros=

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